POR ROMERO RIBEIRO
Foto: Tatiane Di Passos
A Festa do Divino Espírito Santo é uma das várias ramificações festivas do catolicismo popular que surgiu em diversas regiões ocidentais europeias a partir da Idade Média, a exemplo de países ibéricos como Portugal e Espanha. Em Portugal, essa celebração é datada desde o ano de 1.451, quando das festas de despedidas da princesa Dª Leonor, ao casar-se com Frederico III, rei dos romanos. Um tempo depois a manifestação foi institucionalizada em Portugal pela rainha Isabel de Aragão. No caso do Brasil, a tradição festiva foi trazida pelos padres jesuítas com o objetivo de catequizar os gentios e escravos africanos, revelando com esta atitude o poder da fé cristã no território dominado. No estado de Goiás a celebração acontece em Pirenópolis e em mais 10 municípios goianos: Corumbá de Goiás, Crixás, Hidrolina, Jaraguá, Palmeiras de Goiás, Pilar de Goiás, Posse, Santa Cruz de Goiás, Santa Terezinha de Goiás e São Francisco de Goiás. Na cidade de Pirenópolis, foi introduzida na segunda metade do século XVIII, tendo notícias mais precisas de sua realização somente a partir do ano de 1.819. Convém lembrar que, conforme depoimentos de diversas pessoas da cidade que participam da Festa do Divino Espírito Santo, em seus 200 anos de história, a apresentação das Cavalhadas (recriando os torneios medievais e as batalhas entre mouros e cristãos) esteve interrompida entre 9 e 10 anos. Esta festa, dentre tantas outras que acontecem, é a de maior expressão que se realiza na cidade, aos modos de uma representação dramática. Seus personagens principais são os cavaleiros, vestidos de azul (cristãos) e vermelho (mouros) e armados com lanças e espadas. As Cavalhadas podem ser compreendidas como a consagração e o desdobramento da Festa do Divino Espírito Santo. Ela – As Cavalhadas – engloba um universo plural de sujeitos sociais com fins religiosos, políticos, culturais, econômicos ou mesmo de entretenimento (em 2018 a festa iniciou e terminou no mês de maio). Por conta disso é possível vê-la como a composição de diversas festas dentro da festa e a canalização e sincretização do sagrado (relacionado quase sempre à ideia de santidade) e do profano (tudo aquilo que provoca a transgressão das regras sagradas), por meio das realizações que permeiam a efetivação da festa em devoção ao Divino Espírito Santo, tais como: as rezas, as missas, o ato novenário, o levantamento de mastros, o pagamento de promessas, os pousos de folias, as algazarras dos mascarados, os shows musicais, as danças, o consumo de bebidas, a soltura dos fogos de artifícios, o comércio ambulante em barraquinhas, dentre outras. Entretanto, presenciando e analisando a história da festa de maneira plural, é possível conceber que o sagrado não subsiste sem a presença do profano, e ambos se complementam na construção do acontecer da tradição festiva. Também: as celebrações dos festejos do Divino Espírito Santo, em Pirenópolis, e seu desfecho com a encenação das Cavalhadas, simbolizam, consagram e eternizam um dos mais importantes elementos do patrimônio cultural e imaterial do povo pirenopolino. Sendo assim, quando a festa termina não significa a potencialização do seu fim; na verdade é o recomeço para que a população local relembre seus ritos de passagens e já se preparare até que a próxima aconteça, porque, rezar é preciso, mas festar também é imprescindível.

Foto: Max Müller

Foto: Max Müller
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