Em Pirenópolis, uma extensa faixa de ruínas de pedras e calçamentos assentados remontam a cidade do século XVIII, vestígios do trabalho realizado por muitos escravos, que afloram ao longo do Rio das Almas, num trajeto de 800 metros repleto de árvores e vegetação exótica, animais, trilhas e as belas ruínas.
Por TATIANE DI PASSOS
O pesquisador, publicitário e guia de turismo Mauro Cruz relata que toda a história da formação de Pirenópolis, com suas igrejas e casarões, foi construída em função das atividades econômicas advindas, originalmente, dos garimpos das minas de “Nossa Senhora do Rosário Meia Ponte”, como a cidade era chamada naquela época. “Os escravos foram trazidos para esta região, fizeram o trabalho todo, e justamente esse ouro retirado do garimpo foi o que manteve a base econômica da Pirenópolis no século XVIII. O ouro do Rio das Almas está diretamente ligado ao nascimento e à manutenção da cidade histórica”.
HISTÓRIA DO OURO
A formação de Pirenópolis teve início com a chegada dos portugueses em busca de ouro em Goiás. “A história cultural pirenopolina vem dessa época, quando os bandeirantes descobriram o ouro no chamado ‘sertão dos índios goyazes’, famoso pelos terrenos difíceis de atravessar e índios bravos. Na busca de riquezas, entraram em guerras com os indígenas, até que viram ouro em suas vestes e os obrigaram a contar onde estava o minério”, relata Mauro. Tempos depois, a região passou a ser governada pela capitania de São Paulo, conforme relatos do geólogo pesquisador Jamilo Thomé, que conta em seus estudos que em razão de o ouro estar misturado às rochas o acesso ao veio era difícil.
“Para Jamilo, a erosão do morro, pela ação do tempo, desgastava a pedra, e a enxurrada levava o material para o fundo do vale. Como o ouro é um metal pesado, a tendência era ficar no fundo dos poços e nas curvas de rio”, ressalta Mauro, explicando que esse terreno era chamado de “aluvião”, formado por cascalho grosso e sedimentos que ficavam no fundo dos vales. “O ouro de aluvião era bastante superficial e abundante, e o processo de lavar era realizado com muita água. Assim, se não houvesse água, não teria ouro”, conta.
AS RUÍNAS
As ruínas de Pirenópolis representam o século XVIII, e podem ser acessadas a partir do Museu de Lavras de Ouro e do Refúgio de Avalon. Por manter elementos desse período, a cidade, com a igreja e casarões coloniais, foi tombada como patrimônio histórico, e toda a história cultural tem a ver com essa época: as ruas, os muros de pedras, os calçamentos antigos, feitos com o pé de moleque, e tudo que a compõe. “Acredito que seja necessário fazer decretos que protejam melhor as ruínas como patrimônio histórico e cultural”, observa Cruz.
MUSEU LAVRAS DE OURO
Uma trilha com mais de 500 metros, repleta de belos e imensos jatobás, sucupiras, angicos, rica fauna e as incríveis ruínas esverdeadas, oferece um passeio inesquecível ao século XVIII. Depois da mineração, a floresta que surgiu na região foi preservada pelo proprietário do local, Hamilton. É contemplada pelo belo Rio das Almas, com poços de 3 a 4 metros, um tranquilo refúgio para banhos. O Museu Lavras de Ouro tem peças utilizadas pelo garimpo da época; é um refúgio ambiental, que mantém a importância da conservação das árvores e principalmente das ruínas. “Toda a extensão da trilha tem a pedra seixo rolado, famosa em paisagismo de jardins e cascatas. Este passeio é uma expedição às ruínas do garimpo de ouro do século XVIII”, ressalva Hamilton.
REFÚGIO AVALON
É um espaço onde há ruínas e que tem como frente o turismo cultural, com guias que contam as histórias e buscam sensibilizar o turista sobre a importância de manter vivos estes vestígios. O caseiro Divino Lima, há 14 anos no Avalon, conduz grupos aos passeios com aula da história das ruínas. “O Avalon está bem preservado; as ruínas, com canais, muros e cascalheiras. Sua beleza está ligada à história geológica que remonta ao primeiro século da colonização portuguesa”, ressalta Divino.
POTENCIAL DA REGIÃO DOS PIRENEUS
De acordo com o geólogo Tadeu Veiga, que trabalha com exploração mineral e pesquisas ligadas à conservação ambiental na região de Pirenópolis, a produção de ouro, iniciada no século 18, foi o que motivou a colonização portuguesa e espanhola.
Com grande experiência, Tadeu trabalhou em pesquisas de bens minerais diversos e planos de manejo de unidades de conservação do Cerrado, tanto na busca pela existência de ouro, quanto na tentativa de organizar a lavra de quartzito. Também atuou nos atrativos turísticos, nas áreas protegidas com reservas particulares de patrimônio cultural, como a RPPN do Vagafogo, pioneira na região.
O geólogo ressalta a importância de manter vivas as marcas das lavras dos primórdios da ocupação. “Precisamos reconhecer que as mesmas pessoas envolvidas nessas lavras foram as que edificaram a cidade, as igrejas, e trouxeram os costumes para Pirenópolis, a exemplo da Festa do Divino, que completa 200 anos. Se essas construções e esses costumes estão preservados e enchem os olhos dos moradores e dos turistas, então é justo que também preservemos o que lhes deu origem. A mineração foi o motivo da colonização do território, e esse tipo de atrativo geológico, histórico e turístico está acontecendo no mundo inteiro”, observa Tadeu, defensor do tombamento das ruínas.
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